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Novo indicador dos ODS sobre Diversidade Alimentar Mínima é adotado por Comissão da ONU

Rui Gonçalves • 18 de março de 2025

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) assumiu em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) um novo indicador do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sobre Diversidade Alimentar Mínima (MDD). Este indicador captura um aspecto crucial que antes faltava no acompanhamento do progresso para acabar com a desnutrição e alcançar o ODS 2 (Fome Zero) e a Agenda 2030 mais ampla. O novo indicador foi formalmente adotado pela Comissão de Estatística das Nações Unidas em sua 56ª sessão em Nova York, realizada no início de março de 2025.


A inclusão do MDD como novo indicador dos ODS é uma das poucas mudanças substanciais aprovadas pela Comissão como parte da Revisão Abrangente de 2025 da estrutura de indicadores dos ODS – a segunda e última Revisão Abrangente dentro do horizonte temporal da Agenda 2030.


Ele marca o capítulo final de um longo processo que começou há mais de um ano por uma coalizão de países e organizações internacionais liderada pela Suíça e liderada pela FAO e UNICEF, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A diversidade – ou a variedade de alimentos que consumimos – é um dos pilares de uma dieta saudável. A qualidade de uma dieta é essencial para prevenir todas as formas de desnutrição e apoiar a saúde, o crescimento, o desenvolvimento e o bem-estar. O novo indicador MDD foi metodologicamente validado e será medido para dois grupos populacionais: crianças e mulheres em idade reprodutiva, designados "MDD-C" e "MDD-W", respectivamente. 


Os 10 grupos de alimentos são definidos como: grãos, raízes e tubérculos brancos e bananas; leguminosas (feijão, ervilha e lentilha); nozes e sementes; leite e produtos lácteos; carnes, aves e peixes; ovo; vegetais de folhas verdes escuras; outras frutas e vegetais ricos em vitamina A; outros produtos hortícolas; e outras frutas.


Quanto maior a proporção de mulheres na amostra que atingem esse limite, maior a chance de as mulheres da população consumirem dietas com vitaminas e minerais suficientes. Um processo semelhante de desenvolvimento foi liderado pelo UNICEF para o MDD-C.


A FAO e o UNICEF, em colaboração com a OMS e outros parceiros, há muito lideram os esforços de coleta de dados sobre segurança alimentar e nutrição, ressaltando a necessidade de validar e harmonizar os métodos de medição. Isso inclui a insegurança alimentar como parte do monitoramento do ODS2, liderado pela FAO, e o acompanhamento do progresso em direção às metas da Assembleia Mundial da Saúde, como atraso no crescimento infantil, emagrecimento, anemia e excesso de peso, liderado pelo UNICEF e pela OMS. A inclusão do MDD representa a primeira vez que uma medida da qualidade das dietas será adicionada a essas informações críticas.


"A ausência de um indicador dos ODS sobre dietas saudáveis negligenciou o papel central que as dietas desempenham na consecução da Agenda 2030, embora os padrões alimentares não saudáveis sejam conhecidos por serem o principal fator de maus resultados de saúde e doenças não transmissíveis em todo o mundo. Agora, os países e a comunidade internacional têm uma nova ferramenta à sua disposição para formular estratégias baseadas em evidências para melhorar os resultados nutricionais e de saúde por meio de intervenções relacionadas à dieta e, portanto, alcançar o ODS 2", disse José Rosero Moncayo, estatístico-chefe da FAO e diretor da Divisão de Estatística.


Lynnette Neufeld, diretora da Divisão de Alimentação e Nutrição da FAO, disse: "Medir a qualidade das dietas não é simples. Para avaliar a qualidade da dieta, o ideal é saber se as dietas são adequadas em todos os nutrientes, equilibradas na ingestão de energia, diversificadas nos alimentos consumidos e moderadas no consumo de alimentos não saudáveis. Fazer isso com comparabilidade entre contextos com indicadores fáceis de medir é complexo. Hoje, celebramos um enorme progresso nesse sentido, com o reconhecimento da diversidade alimentar como um elo perdido crítico que acompanha o progresso em direção ao ODS2."


O indicador MDD-W pode ser usado para avaliar a diversidade alimentar em nível populacional, avaliar o impacto dos programas, informar políticas e definir metas. O MDD se concentra em mulheres e crianças, dois grupos que correm maior risco de várias formas de desnutrição.


Um passo crítico à frente

As tendências globais e regionais serão analisadas no relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2025 da ONU, que deve ser publicado em junho, bem como na avaliação da FAO "Acompanhando o progresso nos indicadores dos ODS relacionados à alimentação e à agricultura 2025", que deve ser publicada em setembro. Espera-se que as estimativas em nível de país sejam divulgadas no segundo semestre do ano.


De acordo com o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, mais de 2,8 bilhões de pessoas não podiam pagar uma dieta saudável em 2022, enquanto novas estimativas de obesidade adulta mostram um aumento constante na última década, de 12,1% em 2012 para 15,8% em 2022. De acordo com as últimas projeções, o mundo terá mais de 1,2 bilhão de adultos obesos até 2030.


Essas estatísticas são críticas. No entanto, para projetar ações eficazes, avaliar resultados e acompanhar o progresso ao longo do tempo, devemos entender o que os indivíduos vulneráveis à desnutrição realmente comem – não apenas o que está disponível no mercado. O novo indicador representa um passo crítico nessa jornada.


Por Rui Gonçalves 18 de março de 2025
A Resolução CFN nº 795/2024 , que estabelece os procedimentos para a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e a Anotação de Responsabilidade pelas Atividades de Alimentação e Nutrição (ARAAN) , entrará em vigor no dia 17 de março de 2025 . Essa norma substituirá a Resolução CFN nº 576/2016 , trazendo mudanças importantes para nutricionistas que atuam como responsáveis técnicos. Principais mudanças: ✅ Empresas cuja atividade-fim é alimentação e nutrição humana e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) terão a ART registrada. ✅ Empresas de outros setores que possuam serviços de alimentação e nutrição humana terão a ARAAN registrada. ✅ Solicitação eletrônica da ART e da ARAAN , garantindo mais agilidade no processo – as instruções estarão disponíveis no site dos Conselhos Regionais de Nutrição (CRN). ✅ Critérios de análise simplificados e mais objetivos , trazendo mais transparência. ✅ Possibilidade de assunção de responsabilidade por nutricionistas com inscrição secundária . Com essas mudanças, o CFN busca modernizar e facilitar o processo para os profissionais, garantindo mais eficiência e clareza na anotação das responsabilidades.
Por Rui Gonçalves 18 de março de 2025
Se as tendências atuais continuarem, quase 3 bilhões de adultos – metade da população mundial – terão sobrepeso ou obesidade até 2030. Além disso, poucos países estão plenamente preparados para enfrentar essa realidade, seja por meio da prevenção ou do tratamento adequado. Essas são algumas das conclusões do Atlas Mundial da Obesidade 2025, relatório produzido pela Federação Mundial da Obesidade. Além disso, com base nas projeções atuais, o mundo não atingirá as metas de 2025 da Assembleia Mundial da Saúde para a prevenção e o controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que incluem “interromper o aumento do diabetes e da obesidade” e “redução relativa de 25% na mortalidade prematura geral por doenças cardiovasculares, câncer, diabetes ou doenças respiratórias crônicas”, conforme as linhas de base estabelecidas em 2010. Também é improvável que seja alcançada a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que prevê a redução em um terço da mortalidade prematura por DCNTs até 2030, conforme acordado na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável em 2015. De acordo com o levantamento, o alto índice de massa corporal (IMC) está ligado a aproximadamente 1,6 milhão de mortes prematuras por ano. Além disso, mais de 160 milhões de anos de vida são perdidos anualmente devido a doenças associadas ao excesso de peso. O estudo também revela que os esforços globais ainda são insuficientes. Apenas 13 países adotaram todas as medidas essenciais para monitorar e tratar a obesidade, e nenhum implementou integralmente as cinco políticas-chave de prevenção recomendadas. Isso significa que a maioria das nações ainda não está preparada para lidar com essa crise. O impacto da obesidade no Brasil No Brasil, a realidade segue essa mesma tendência preocupante. O número de pessoas com obesidade cresce a cada ano: Em 2003, 12,2% da população adulta vivia com obesidade; Em 2019, esse percentual mais que dobrou, chegando a 26,8%; Em 2025, a projeção é que 31% da população adulta esteja com obesidade. E as perspectivas futuras não são melhores. Até 2030, a obesidade pode aumentar em 33,4% entre os homens e impressionantes 46,2% entre as mulheres. Se nada mudar, até 2044, quase metade da população adulta brasileira (48%) terá obesidade, e outros 27% viverão com sobrepeso – um cenário crítico para a saúde pública. Combater a obesidade não pode mais ser adiado. Criar ambientes que incentivem hábitos saudáveis, garantir o acesso a alimentos nutritivos e promover a prática de atividades físicas são passos fundamentais. Regulamentar a publicidade de alimentos ultraprocessados e ampliar políticas públicas eficazes também são estratégias essenciais.  O enfrentamento da obesidade exige um esforço coletivo – governos, empresas, profissionais de saúde e a própria população precisam se mobilizar para reverter esse quadro. O futuro da saúde global depende das escolhas que fazemos hoje.
Por Rui Gonçalves 18 de março de 2025
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta quase 6% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 12 milhões de pessoas. No mundo, são mais de 300 milhões de diagnósticos. O tratamento envolve terapia e medicação, mas o gerenciamento da doença também passa pela busca de um estilo de vida mais saudável, priorizando atividade física, alimentação e sono equilibrados. Diversos estudos associam estes fatores a uma melhora global e duradoura.  No caso da relação entre hábitos alimentares e depressão, porém, “muito do que se sabe vem de pesquisas conduzidas em países ricos”, conta Naomi Ferreira, pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), destacando a falta de dados que considerem a realidade dos países de baixa e média renda. Pensando em diminuir essa lacuna, ela liderou um estudo com brasileiros focado especialmente na relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a incidência e persistência da condição psíquica. A pesquisa envolveu mais de 14 mil pessoas, com dados coletados ao longo de oito anos, e revelou que uma dieta com alto teor destes produtos tem um impacto substancial no risco de depressão persistente. A pesquisa teve o apoio do Laboratório de Fisiopatologia no Envelhecimento (Gerolab), que investiga o envelhecimento e as doenças crônico-degenerativas associadas. Claudia Suemoto, professora de Geriatria da FMUSP e diretora do Biobanco do Gerolab, já verificou anteriormente a associação entre o consumo de ultraprocessados e o declínio cognitivo na terceira idade, e foi responsável por supervisionar o trabalho recente. “Os ultraprocessados têm sido estudados em relação a vários desfechos de saúde”, explica Naomi. O artigo também contou com a participação de profissionais do Instituto de Psiquiatria (IPq) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. “As pesquisadoras da FSP trabalharam com o Carlos Monteiro, cientista brasileiro que descreveu pela primeira vez a classificação de ultraprocessados”, continua Naomi. Essa classificação, utilizada amplamente em escala mundial, divide os alimentos em quatro grupos: in natura ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; e ultraprocessados (que contêm aditivos como corantes e emulsificantes). No contexto da pesquisa, os grupos 1 e 2 foram unidos, pois os ingredientes são comumente usados na preparação e tempero de alimentos naturais. Ao longo do estudo, houve três períodos de avaliação (ondas): 2008 a 2010, 2012 a 2014 e 2017 a 2019. Dentre os 13.870 participantes anteriormente livres de depressão, o grupo que consumia alimentos não processados ou minimamente processados não apresentou depressão em nenhuma das ondas avaliadas. Publicada no Journal of Academy of Nutrition and Dietetics, a investigação foi realizada a partir de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que acompanha a saúde de servidores públicos de seis capitais entre 35 e 74 anos. O Elsa acontece em diversos centros no País, e tem como objetivo avaliar o risco na população brasileira para doenças crônicas, em especial, as cardiovasculares e o diabetes. É considerado um levantamento fundamental para a adequação de políticas públicas de saúde às necessidades nacionais. Um dos enfoques do estudo é a dieta da população, associada às condição de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho e gênero. “O Elsa é um marco, porque é um estudo epidemiológico com um acompanhamento longo, e envolve uma população de quase 15 mil pessoas”, destaca Naomi. “Esses dados são muito importantes para entender um fenômeno que já é analisado em outros contextos socioculturais, mas que tem suas peculiaridades num País como o nosso, composto de desigualdades e adversidades do ponto de vista socioeconômico. ” Perigo dos ultraprocessados Informações consolidadas na ciência confirmam que uma alimentação primordialmente in natura auxilia a suprir as necessidades do corpo humano, reduzir a hipertensão e atrasar a neurodegeneração em pessoas de idade avançada. A chamada “dieta mediterrânea” fornece alto teor de antioxidantes e baixas quantidades de gorduras saturadas e açúcares adicionados: consequentemente, o estresse oxidativo é reduzido, e os níveis inflamatórios cerebrais diminuem. “A dieta mediterrânea é caracterizada por um consumo importante de frutas, legumes e verduras, e um consumo baixo de carne vermelha”, comenta Naomi Ferreira. Em contrapartida, o consumo diário de ultraprocessados está relacionado ao aumento de processos inflamatórios, tanto do ponto de vista sistêmico quanto de neuroinflamação, propiciando perfis desregulados de neurotransmissores cerebrais. “A dieta ocidental que a população mundial tem aderido, muito baseada em fast foods e comidas prontas, tem um alto teor de calorias vazias — ou seja, você ingere a caloria, mas o corpo continua carecendo de nutrientes fundamentais”, aponta. “A constituição do alimento ultraprocessado pode causar desequilíbrios na microbiota intestinal”, continua a pesquisadora. O eixo intestino-cérebro, que liga o sistema nervoso entérico ao central, participa da relação: vitaminas e minerais são cruciais para o bom funcionamento do sistema nervoso, e sua ausência aumenta o risco de diversas doenças, como demência e Alzheimer. “A intensa deposição das proteínas em um ambiente com mais marcadores inflamatórios predispõe o indivíduo a apresentar sintomas neurodegenerativos”, diz. Métodos de investigação Para quantificar a incidência da depressão nos pacientes, o principal método utilizado foi o Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R), uma entrevista validada para sintomas psiquiátricos. O CSI-R se baseia em cinco aspectos: fadiga, concentração ou esquecimento, distúrbios do sono, depressão e ideias depressivas. Os dados coletados foram comparados com as respostas de um questionário de frequência alimentar, que avalia padrões alimentares no período de um ano com base em 114 itens. Por fim, foi realizada a análise de Cox, que informa o risco do indivíduo desenvolver a depressão ou não, de acordo com seus hábitos. “Aqueles que consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30% maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão”, realça a Dra. Naomi. O maior diferencial da pesquisa, entretanto, foi o enfoque dado à persistência da doença ao longo dos oito anos. A análise de Cluster, um software estatístico, classificou os participantes do estudo em três grupos: nenhum diagnóstico de depressão, diagnóstico em somente uma das avaliações, e diagnóstico em duas ou mais avaliações. Juntamente a essa estratégia, uma análise de regressão multinomial avaliou o consumo de ultraprocessados de 1 a 4 e associou ambos os resultados. “O resultado da depressão persistente foi inesperado porque não se tinha muitos estudos sobre isso, sabíamos muito pouco a respeito”, afirma a cientista. Os indivíduos que registraram maior consumo de ultraprocessados no início do estudo tiveram mais diagnósticos nas avaliações subsequentes: em relação ao grupo 1, o risco de depressão persistente dos integrantes do grupo 2 foi 30% maior; o risco do grupo 3 foi 39% maior, e com relação ao grupo 4, o risco foi 58% maior. Condição e estilo de vida O estudo também levou em consideração variáveis associadas para o desenvolvimento da depressão, como aspectos sociodemográficos e dados clínicos. Portanto, a pesquisa também questionou os participantes sobre seus hábitos, como consumo excessivo de álcool, tabagismo e frequência de atividade física. Os resultados revelaram associações a múltiplos fatores: jovens, mulheres, negros ou pardos, fumantes, pessoas de baixa renda, pessoas com maior ingestão total de energia diária e maior Índice de Massa Corporal (IMC) eram mais propensos a receber o diagnóstico na primeira avaliação. Por outro lado, participantes com um diploma universitário, casados e fisicamente ativos eram menos propensos a sofrer com a depressão. A cientista também ressalta que o alto consumo de ultraprocessados leva ao sobrepeso e à obesidade, e essas condições aumentam o risco cognitivo em geral. Para ela, um grande desafio é conscientizar a população da importância de refletir sobre seus hábitos alimentares. “Se só pensarmos na gratificação a curto prazo, podemos sacrificar o longo prazo com um transtorno mental e com diversas outras doenças a que os ultraprocessados estão associados.” Pelo lado positivo, a análise estatística da substituição de alimentos demonstra que uma pequena diferença já pode surtir efeitos relevantes: substituindo 5% do consumo de ultraprocessados pela mesma quantidade calórica em alimentos minimamente processados, o risco de um indivíduo desenvolver depressão ao longo dos anos diminui em 6%. Ao substituir 20% desses produtos, é possível reduzir a probabilidade em 22%. Solucionar este problema em nível social, entretanto, é uma tarefa complexa, visto que a diversidade socioeconômica da população brasileira interfere diretamente no acesso à alimentação de qualidade. “Os ultraprocessados são produzidos de forma a aguentar por muito mais tempo na prateleira, então são financeiramente mais acessíveis do que o alimento in natura, e por isso pessoas de renda mais baixa tendem a consumi-los”, finaliza a pesquisadora.
Por Rui Gonçalves 11 de março de 2025
Hidratação constante e toalha úmida por perto, recomenda a pesquisadora Tatiane Cristina Moraes de Sousa para enfrentar o calor intenso. Professora do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), alerta para os impactos a curto e longo prazo na saúde humana em razão da alta das temperaturas registradas na cidade do Rio de Janeiro. Somente nos dois primeiros meses do ano, mais de 5 mil pessoas já procuraram atendimento médico em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em razão do calor excessivo, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-RJ). “Quando falamos dos impactos, temos que pensar primeiro na exposição, que é como aquela pessoa está exposta, por quantas horas, se está dentro de um ambiente ou não, se está a céu aberto, trabalhando”, avalia a professora. Como efeitos imediatos da exposição ao calor, a pesquisadora cita sinais de exaustão e insolação, que, em casos mais graves ou quando não há tratamento adequado, podem provocar complicações em órgãos vitais. “A pessoa pode ter desmaios, náuseas, diferentes sinais e sintomas que mostram que ela está se encaminhando para uma insolação. O risco final, que pode acontecer de imediato dependendo das condições, é a pessoa vir a óbito”, comenta, relembrando o caso da universitária Ana Clara Benevides Machado, que morreu devido à exaustão causada pelo calor durante um show da cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro em 2023. Além dos efeitos diretos da exposição ao sol, principalmente em dias de temperatura e sensação térmica elevadas, Sousa aponta para os efeitos a longo prazo. À Agência Brasil, a professora explica que a exposição ao calor intenso faz com que se exija mais esforço do organismo para se regular. “Nosso sistema cardiovascular e nosso sistema renal estão se esforçando mais para o nosso corpo voltar à temperatura em que o organismo funciona melhor, em torno de 37ºC, então, se expormos o nosso corpo a esse esforço por um longo período, também aumentamos a chance de aparecerem doenças crônicas”, diz. Apesar das temperaturas recordes registradas na capital fluminense — na segunda-feira (17), a cidade atingiu máxima de 44ºC, maior temperatura desde 2024 —, a pesquisadora avalia que o calor excessivo não é um desafio apenas da cidade do Rio de Janeiro, mas um problema que precisa ser repensado por diferentes sistemas de gestão pública e pela sociedade. “Hidratação, por exemplo, é essencial. A prefeitura municipal [do Rio de Janeiro] disponibilizou pela cidade diferentes pontos de hidratação gratuita, mas sabemos que interromper ou evitar essa exposição no horário de 11h às 15h é ideal, só que isso mexe, principalmente, com o trabalhador, isso mexe como construímos a nossa sociedade para os horários de trabalho”, reflete. Segundo Sousa, os profissionais mais afetados são aqueles com vínculos informais de trabalho, especialmente entregadores e vendedores ambulantes, que dependem dos horários de maior movimento. “Como você vai garantir que esse vendedor não trabalhe nos horários de pico, se no carnaval, por exemplo, é o momento em que eles mais ganham?”, questiona.
Por Rui Gonçalves 11 de março de 2025
Aproximadamente um a cada três brasileiros, 31%, vive com obesidade e essa porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos. No país cerca da metade da população adulta, entre 40% e 50%, não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas. Os dados são do Atlas Mundial da Obesidade 2025 (World Obesity Atlas 2024), da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation – WOF). O relatório mostra que, no Brasil, 68% da população tem excesso de peso e, dessas, 31% tem obesidade e 37% tem sobrepeso. O Atlas traz ainda uma projeção de que o número de homens com obesidade até 2030 pode aumentar em 33,4%. Entre as mulheres, essa porcentagem pode crescer 46,2%.e O sobrepeso e a obesidade podem trazer riscos. Segundo o Atlas, 60,9 mil mortes prematuras no Brasil podem ser atribuídas as doenças crônicas não transmissíveis devido ao sobrepeso e obesidade, como diabetes tipo 2 e Acidente Vascular Cerebral (AVC) – a informação é baseada em dados de 2021.body Diante desse cenário, o endocrinologista Marcio Mancini, diretor do Departamento de Tratamento Farmacológico da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), diz que o Brasil precisa tratar o sobrepeso e a obesidade com uma questão de saúde pública. “É um problema de saúde pública, não dá mais para responsabilizar um indivíduo. Não dá para falar para aquela pessoa que sai às 5h da manhã de casa e chega em casa às 21h, que passa várias horas em transporte público, para comer mais frutas e legumes e ir para academia fazer exercício”, defende. “O problema de saúde pública tem que ser enfrentado com medidas de saúde pública”, enfatiza. Ele cita exemplos de medidas como aumentar as taxas de bebidas açucaradas como formas de conscientizar a população e colocar avisos nos rótulos dos alimentos de que aquele produto possui altas taxas de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio. Mas reforça que ainda são necessárias outras ações, como reduzir os preços de alimentos saudáveis e campanhas permanentes nas escolas. “Tem um dia por ano que se fala de alimentação saudável na escola. Isso não adianta absolutamente nada. Ninguém vai mudar a sua alimentação por escutar uma vez do ano alguma coisa sobre a alimentação saudável. Tem muito a ser feito”, diz o médico. Ele acrescenta que até mesmo medidas de segurança pública e urbanismo podem incentivar e permitir que a população tenha uma melhor qualidade de vida. “Até mesmo violência urbana, iluminação urbana [têm impacto] porque as pessoas têm medo de andar na rua. As pessoas poderiam usar menos o carro e usar transporte público, se o transporte público fosse de qualidade”, diz. “Ter parques em todas as regiões da cidade, não só em regiões privilegiadas, ter calçadas adequadas para as pessoas caminharem. Vai muito além de só falar para a pessoa, olha, coma direito e vá se movimentar”. Situação no mundo De acordo com o Atlas, atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo vivem com obesidade. Projeções indicam que esse número pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030, caso medidas efetivas não sejam implementadas. O relatório mostra que dois terços dos países estão despreparados para lidar com o aumento dos níveis de obesidade, com apenas 7% tendo sistemas de saúde adequadamente preparados. A obesidade está ligada a 1,6 milhão de mortes prematuras anuais por doenças não transmissíveis, superando as fatalidades em acidentes de trânsito. A Federação Mundial da Obesidade calcula um possível aumento de 115% na obesidade entre 2010 e 2030, e pede que a questão seja tratada por “toda a sociedade", com políticas como rotulagem de alimentos, tributação e promoção da atividade física. O relatório mostra que os índices brasileiros são melhores que os dos Estados Unidos, por exemplo, com 75% da população com excesso de peso e, dentro desse grupo, 44% das pessoas com obesidade. Mas, na outra ponta, são piores que países como a China, com 41% da população com excesso de peso e, desses, 9% com obesidade. “Apesar de a alimentação do brasileiro estar piorando ano a ano, cada vez se come menos arroz e feijão e se come mais esses alimentos processados, o Brasil não come tanto ultraprocessado como os Estados Unidos, por exemplo. É o momento de tentar reverter esse cenário”, defende Mancini. Mudar o Mundo Pela Saúde Diante desses dados, a campanha Mudar o Mundo Pela Saúde busca mobilizar governos, organizações de saúde e toda a sociedade para promover mudanças. Esta terça-feira (4) é o Dia Mundial da Obesidade, que buscar conscientizar população e governos sobre a obesidade. Como parte da campanha no Brasil, a Abeso, em parceria com a Sociedade SBEM, lança o e-book gratuito Mudar o Mundo Pela Nossa Saúde, que tem como objetivo analisar e propor mudanças em políticas públicas, iniciativas privadas e diversos setores para criar sistemas mais eficazes na prevenção e tratamento da obesidade.
Por Rui Gonçalves 28 de janeiro de 2025
A Anvisa divulgou a 9ª edição do documento de perguntas e respostas sobre suplementos alimentares , com atualizações importantes para o setor. O documento traz atualizações decorrentes da edição ou revisão de normativos de alimentos, com destaque à RDC 843/2024 e à IN 281/2024 , que tratam sobre a regularização de alimentos, e à RDC 839/2023 , sobre avaliação de segurança de novos alimentos e novos ingredientes.  Para oferecer maior clareza, algumas perguntas foram revisadas e agrupadas, e ajustes gramaticais foram realizados, garantindo uma linguagem mais simples e acessível aos leitores. Também houve a renumeração das perguntas, visando melhorar a organização e facilitar a consulta por temas.
Por Rui Gonçalves 21 de janeiro de 2025
A Internet tornou a compra de produtos de nutrição mais acessível do que nunca, colocando suplementos, vitaminas, chás e alimentos funcionais ao alcance de um clique. No entanto, esse ambiente digital também se tornou um dos principais espaços para a venda e publicidade de suplementos falsificados ou irregulares. Segundo o monitoramento da Vigilância Sanitária, a Anvisa (2024) já emitiu mais de 55 mil notificações para a retirada de anúncios de suplementos irregulares em plataformas de e-commerce.
Por Rui Gonçalves 21 de janeiro de 2025
Usando matérias-primas como alho, linhaça e chia, projeto da UFRJ inventa embalagens que podem se decompor em até seis meses. Além de mais ecológico, produto promete também prolongar a vida útil de alimentos. A preocupação com o impacto ecológico do descarte de plásticos tem impulsionado pesquisas que aliam sustentabilidade à inovação. Uma delas é conduzida por pesquisadores do Instituto de Macromoléculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMA-UFRJ), que querem transformar o mercado de embalagens a partir de alimentos como linhaça, alho, pimenta e chia. A promessa são bioplásticos produzidos com compostos bioativos extraídos de alimentos funcionais e que se degradam em questão de meses. Compostos bioativos são moléculas de origem natural que desempenham diferentes papéis, como atividade antioxidante, estimulação do sistema imunológico, equilíbrio do nível hormonal e atividade antibacteriana e antiviral. “Essa ideia surgiu por causa dos benefícios que os bioativos têm para a nossa saúde”, explica a professora Maria Inês Tavares, coordenadora do projeto. “Por que não utilizá-los para embalagens alimentícias, mantendo sua biodegradabilidade?” A invenção já está em processo de patenteamento e, além de mais sustentável – segundo os pesquisadores, a extração não envolve o uso de solventes prejudiciais ao meio ambiente –, promete ainda prolongar a vida útil de alimentos. O grupo aposta que a descoberta possa ser uma alternativa importante para a substituição de embalagens comuns. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) , esse setor é o principal responsável pela geração de resíduos plásticos descartáveis globalmente. Cerca de 36% de todo o plástico produzido destina-se a embalagens, incluindo recipientes descartáveis para alimentos e bebidas. Destes, 85% acabam em aterros sanitários ou como lixo mal gerenciado. Menos desperdício e decomposição em 180 dias Os pesquisadores da UFRJ afirmam que suas embalagens têm propriedades antioxidantes e protetoras que prolongam o tempo de prateleira dos alimentos e reduzem o desperdício. Mariana Alves, pesquisadora e integrante da equipe, destaca os resultados do trabalho: “A embalagem aumentou o tempo de prateleira dos alimentos testes em torno de 16 dias fora da refrigeração e 14 dias na geladeira. Ela oferece resistência de barreira semelhante aos plásticos tradicionais, mas se decompõe em aproximadamente 180 dias em condições ambientais favoráveis, preferencialmente em sistema de compostagem.” Durante o processo de decomposição do bioplástico, os cientistas monitoraram a segurança ambiental e as mudanças nos materiais, e concluíram que os bionanocompósitos – materiais criados a partir da combinação de elementos em escala nanométrica – não liberam substâncias tóxicas. “Os polímeros biodegradáveis são transformados em CO2 e água na natureza por micro-organismos, ao contrário dos plásticos comuns, que apenas diminuem de tamanho, formando microplásticos que continuam poluindo o ambiente”, explica Alves. A escolha da matéria-prima para a confecção do bioplástico também foi estratégica, evitando a demanda por alimentos básicos da dieta humana e explorando materiais como folhas e frutos que crescem rapidamente. “No caso da chia, ela tem um potencial antioxidante muito grande, principalmente nos extratos da semente”, afirma Alves. “Vale ressaltar que os bioplásticos têm diferentes materiais que podem fazer parte da composição, mas a degradabilidade dele no meio ambiente não produz nenhum malefício no meio físico, nem na atmosfera, nem no solo, nem na água e não contamina os recursos hídricos”, diz Leonardo Duarte, especialista em bioplásticos e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que não participou da pesquisa. Outras aplicações Além do setor alimentício, a pesquisa abre portas para aplicações em áreas como saúde, tecnologia e moda. Nesta última, ainda segundo a ONU, cerca de 60% das roupas são confeccionadas com materiais plásticos, incluindo poliéster, acrílico e nylon. “Estamos animados com a versatilidade dos nanocompósitos e suas múltiplas aplicações. Isso reforça o potencial transformador dessa tecnologia para substituir materiais não renováveis em larga escala”, afirma Tavares, chefe do projeto. Ela lista, entre possíveis usos futuros, próteses, filtros e acessórios biodegradáveis. Um estudo recente do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) da Unicamp publicado na revista Nature mostra que o Brasil pode substituir plásticos derivados do petróleo por bioplásticos até 2050, sem aumentar o desmatamento ou degradar o meio ambiente. Potencial de crescimento Atualmente, os bioplásticos representam cerca de 0,5% das mais de 400 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente, segundo a associação European Bioplastics, que representa a indústria do setor. No Brasil, onde os resíduos plásticos urbanos somaram 13,7 milhões de toneladas em 2022 — o equivalente a 64 quilos por habitante, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) —, ainda faltam dados oficiais sobre a produção ou comercialização de bioplásticos. Apesar disso, especialistas ouvidos pela reportagem apontam um aumento expressivo na demanda pelo material, impulsionado pela pressão de consumidores e mercados globais por alternativas sustentáveis. Um deles é o professor Duarte, líder do grupo de engenharia e monitoramento de biossistemas da UFRRJ. Ele estuda o segmento há mais de 20 anos e desenvolveu um bioplástico feito a partir de resina de babosa (aloe vera) combinada com amido de batata-doce, ambos cultivados de forma orgânica. Segundo ele, a biodiversidade brasileira é um diferencial significativo para o desenvolvimento de bioplásticos. “Essa riqueza aumenta nossa chance de obter resultados variados e materiais inovadores. Cada região do Brasil pode desenvolver soluções específicas, explorando sua matéria-prima local. Isso enriquece a pesquisa e reforça nosso papel no cenário internacional.” Por outro lado, Cristiane Siqueira, doutora em engenharia de processos químicos e bioquímicos e coordenadora do mestrado em Ciências Ambientais da Univassouras, no Rio de Janeiro, pondera que desafios estruturais limitam a cadeia produtiva de bioplásticos no país. “Temos grande potencial graças à disponibilidade de matérias-primas, como resíduos agroindustriais. Contudo, os principais gargalos incluem o custo elevado, a infraestrutura insuficiente para descarte adequado e a falta de conscientização do consumidor e da indústria”, avalia. Embora o Brasil já tenha iniciativas de uso de bioplásticos, como em embalagens de cosméticos, escovas de dente e cápsulas de café, Siqueira enfatiza que muitos projetos permanecem no universo acadêmico ou no estágio experimental de empresas. “Uma parcela reduzida alcança o consumidor final. É necessário investir em políticas públicas e incentivos para viabilizar a aplicação em larga escala, especialmente em áreas como a médica, onde o impacto pode ser ainda maior”, diz. Fonte: CFN
Por Rui Gonçalves 21 de janeiro de 2025
Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature revelou que, em 2020, quase 10% dos novos casos de diabetes tipo 2 no mundo estavam associados ao consumo de bebidas adoçadas, como refrigerantes, sucos industrializados e energéticos. A pesquisa, que analisou dados de 184 países, também estimou que o consumo desses produtos foi responsável por cerca de 340 mil mortes no mesmo período, relacionadas ao diabetes e a doenças cardiovasculares. Os especialistas destacam que as bebidas açucaradas são rapidamente digeridas, elevando os níveis de glicose no sangue de forma abrupta. O consumo frequente pode levar ao ganho de peso, à resistência à insulina e ao desenvolvimento de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2, além de aumentar o risco de problemas cardíacos. O impacto global dessas bebidas é mais evidente em regiões como a América Latina e o Caribe, onde aproximadamente 24% dos novos casos de diabetes tipo 2 estão relacionados ao consumo de bebidas açucaradas. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que as doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% das mortes no país, enquanto o diabetes causou mais de 750 mil óbitos entre 2010 e 2021. Medidas fiscais podem contribuir para a redução do consumo O estudo também analisou a evolução de casos e mortes desde 1990, destacando o impacto de políticas públicas em países como o México, que apresenta altos índices de consumo de bebidas adoçadas. Nos últimos anos, houve uma redução no número de casos atribuídos a essas bebidas, resultado de um imposto implementado em 2014 que encareceu esses produtos. No Brasil, uma medida semelhante foi aprovada pela Câmara no final de 2024, aumentando as taxas de imposto sobre bebidas açucaradas. A iniciativa, proposta pelo governo federal, está prevista para entrar em vigor em 2026 e tem como objetivo desestimular o consumo desses produtos e melhorar os indicadores de saúde no país.  Fonte: Revista Nature
Por Rui Gonçalves 14 de janeiro de 2025
Um novo estudo, conduzido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, revelou que o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado a uma menor adesão à chamada “dieta planetária”. A pesquisa analisa o comportamento alimentar dos brasileiros e traz um alerta importante sobre os efeitos do alto consumo de ultraprocessados para a saúde humana e o planeta. Leandro Cacau, pesquisador do Nupens e um dos autores do estudo, explica a dieta planetária e seus impactos positivos na saúde. “Dieta da saúde planetária, a gente poderia defini-la como um modelo de dieta de referência que tem o principal objetivo de ser saudável, tanto para a nossa saúde, para a saúde das populações, dos indivíduos, mas também para a saúde planetária, respeitando os limites planetários do nosso planeta. E essa dieta foi proposta em 2019 por um grupo de cientistas de diversas áreas do conhecimento, de nutrição, de saúde, de agronomia e de produção sustentável”, afirma Cacau. O consumo de ultraprocessados, que inclui alimentos como salgadinhos industrializados e biscoitos recheados, está associado a uma menor conformidade com os princípios da dieta planetária. Alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, vegetais e grãos, por outro lado, promovem uma maior adesão a essa alimentação saudável e ambientalmente responsável. Essa nova pesquisa reafirma a importância de limitar a ingestão de ultraprocessados em prol de uma dieta mais natural e sustentável. Além dos impactos diretos na saúde, estudos anteriores já indicaram que o consumo elevado de ultraprocessados pode contribuir para a degradação ambiental. A produção desses alimentos envolve processos industriais complexos e o uso de ingredientes como aditivos químicos, que, a longo prazo, podem causar desequilíbrios ecológicos e aumentar as emissões de gases de efeito estufa. “E, nesse caso, quando a gente pensa em um modelo de dieta sustentável, que também pensa no meio ambiente, claro que a gente vai preferir alimentos que sejam de origem vegetal,” exemplifica. O estudo brasileiro usou dados do Inquérito Nacional de Alimentação de 2017-2018 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, analisando padrões de consumo alimentar da população. Os pesquisadores concluíram que, quanto maior o consumo de alimentos ultraprocessados, menor a adesão à dieta planetária. Alimentos como milho enlatado e vegetais frescos, que passam por processamento mínimo, são recomendados por serem mais saudáveis e menos prejudiciais ao meio ambiente. As recomendações da dieta planetária estão alinhadas com as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, que, segundo Cacau, já há uma década preconiza a preferência por alimentos in natura e a redução dos ultraprocessados. “Nosso estudo reforça as evidências acumuladas de que uma alimentação mais natural é essencial para a saúde e o meio ambiente”, comenta o pesquisador. Em relação às políticas públicas, o estudo ressalta a necessidade de promover o conhecimento sobre o impacto dos ultraprocessados para que os consumidores possam fazer escolhas mais conscientes. Segundo Cacau, “essa evidência científica é fundamental para orientar o poder público e fortalecer políticas de incentivo à alimentação saudável”. Fonte: USP
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