Checklist: como avaliar produtos de nutrição vendidos na internet e redes sociais?
Rui Gonçalves • 21 de janeiro de 2025
A Internet tornou a compra de produtos de nutrição mais acessível do que nunca, colocando suplementos, vitaminas, chás e alimentos funcionais ao alcance de um clique. No entanto, esse ambiente digital também se tornou um dos principais espaços para a venda e publicidade de suplementos falsificados ou irregulares. Segundo o monitoramento da Vigilância Sanitária, a Anvisa (2024) já emitiu mais de 55 mil notificações para a retirada de anúncios de suplementos irregulares em plataformas de e-commerce.
Durante o Congresso Alagoano de Nutrição (CANUT), realizado nos dias 10, 11 e 12 de abril, o Conselho Regional de Nutrição - 6ª Região (CRN-6) apresentou a minuta do Guia Prático para Atualização dos Projetos Pedagógicos dos Cursos de Nutrição (PPCs), um documento orientador que está em fase final de construção e será lançado oficialmente em breve. O material tem como objetivo apoiar a implementação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde. Como parte da iniciativa, o CRN-6 promoveu uma reunião estratégica com coordenadores e representantes docentes dos cursos de Nutrição de Alagoas, fortalecendo o diálogo com as instituições de ensino superior e discutindo os desafios e possibilidades da atualização curricular. Para Allan Victor Gouveia, nutricionista e integrante do Setor de Formação Profissional do CRN-6, o momento foi essencial: “O diálogo direto com os coordenadores é fundamental para garantir que as mudanças curriculares estejam conectadas à realidade do território, às necessidades sociais e à formação crítica dos futuros profissionais. A minuta do Guia nasce como ferramenta, mas a transformação vem da escuta e da construção conjunta com quem forma.” O presidente do CRN-6, Rafael Azeredo, também professor universitário, ressaltou a importância da educação como eixo estratégico para o futuro da profissão: “Enquanto educador e presidente, acredito que discutir as novas DCNs é reafirmar nosso compromisso com uma formação ética, humanizada e conectada com os princípios da Segurança Alimentar e Nutricional. Os cursos de Nutrição precisam estar alinhados aos desafios contemporâneos da profissão.” A minuta do Guia Prático apresenta 10 passos para apoiar a revisão dos PPCs de forma clara e objetiva, além de um comparativo entre a norma anterior e as inovações propostas pelas novas diretrizes. O material será aprimorado com base no diálogo com as instituições de ensino e lançado oficialmente nos próximos meses, com previsão de eventos presenciais em outros estados da jurisdição do CRN-6.
Durante o Congresso Alagoano de Nutrição (CANUT), realizado entre os dias 10 e 12 de abril, o Conselho Regional de Nutrição - 6ª Região (CRN-6) lançou oficialmente o e-book “Sabores da Ancestralidade: histórias e receitas do quilombo Estivas”. O material é fruto de uma escuta sensível e de vivências em campo com a comunidade quilombola de Estivas, em Garanhuns (PE), e busca valorizar a cultura alimentar tradicional como parte essencial da luta por soberania e segurança alimentar. A publicação reúne histórias, afetos, modos de preparo e ingredientes presentes no cotidiano da comunidade, revelando como a alimentação é, ao mesmo tempo, sustento, memória e resistência. Segundo o nutricionista e pesquisador Anderson Melo, um dos autores do e-book, o material vai além da culinária:“Este e-book é uma forma de devolver à comunidade aquilo que ela tem de mais rico: seus saberes, seus temperos, sua história. A Nutrição precisa estar comprometida com o território, com a ancestralidade e com a valorização daquilo que sustenta o corpo e o espírito. Em Estivas, cada receita é uma narrativa viva de luta, afeto e pertencimento.” O lançamento foi acompanhado de uma roda de conversa durante o Congresso e emocionou participantes ao evidenciar a potência das tradições alimentares como caminhos para uma Nutrição antirracista, inclusiva e comprometida com os direitos humanos. O material ainda tem como autoras as nutricionistas Fabíola Marinho e Paula Brielle, além de Ludmila Nóbrega, pesquisadora anti-racista. O e-book “Sabores da Ancestralidade” está disponível para download gratuito no site oficial do CRN-6 e no link da bio do Instagram do Conselho
Entre os dias 10 e 12 de abril, o Conselho Regional de Nutrição - 6ª Região (CRN-6) participou ativamente do Congresso Alagoano de Nutrição (CANUT), realizado em Maceió (AL). O evento reuniu profissionais, estudantes e especialistas de diversas áreas da Nutrição, promovendo diálogos fundamentais sobre os desafios da profissão e as políticas públicas que impactam a saúde e a alimentação da população. Durante a programação, o CRN-6 realizou o lançamento do e-book “Sabores da Ancestralidade: histórias e receitas do quilombo Estivas”. Na ocasião, o Regional também apresentou a minuta “Guia Prático para Atualização dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs)”, voltado à implementação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Nutrição. No CANUT, houve também reunião com os coordenadores de cursos de Nutrição de Alagoas. Eles puderam participar das discussões sobre as DCNs e sobre a formação do Nutricionista O presidente do CRN-6, Rafael Azeredo, destacou a importância do Congresso para o fortalecimento da categoria e a aproximação com a comunidade local. “Estar presente em Alagoas e dialogar com profissionais e estudantes da região é essencial para que o Conselho atue de forma integrada e escute as demandas reais do território. Precisamos cada vez mais fortalecer os espaços de formação e garantir que a Nutrição esteja alinhada com os princípios da Segurança Alimentar e Nutricional, sobretudo em contextos de desigualdade social”, afirmou. Além das apresentações técnicas, a participação do CRN-6 reforçou seu papel institucional de articulação com a sociedade e de valorização dos saberes tradicionais e das práticas alimentares que compõem a identidade dos povos do Nordeste
O Conselho Regional de Nutrição - 6ª Região (CRN-6) protocolou, junto à Polícia Civil de Pernambuco, na última semana, notícias-crime contra indivíduos sem formação ou habilitação legal que vêm atuando indevidamente como nutricionistas. A medida tem como objetivo coibir o exercício ilegal da profissão, especialmente por digitais influencers que publicam prescrição de dietas, recomendações alimentares e orientações nutricionais sem qualquer respaldo técnico ou legal. Após o recebimento dos documentos, a Polícia Civil confirmou que irá iniciar o processo investigativo, com a intimação dos denunciados para prestarem depoimento na delegacia. As ações foram acompanhadas pela Assessoria Jurídica do CRN-6 e são parte de um esforço institucional para proteger a sociedade de práticas que comprometem a saúde pública. O presidente do CRN-6, Rafael Azeredo, destacou a gravidade da situação e reforçou o papel do Conselho na defesa do exercício profissional legal e ético: “Quando pessoas não habilitadas invadem a área da Nutrição, colocam em risco direto a saúde da população. A disseminação de informações sem base científica por influencers digitais tem gerado práticas alimentares perigosas, transtornos nutricionais e agravamentos de doenças. Essa ação junto à Polícia Civil é uma medida firme e necessária para garantir a segurança alimentar e o direito da população a uma orientação profissional qualificada.” A iniciativa do CRN-6 não se limitará a Pernambuco: o Conselho já está organizando a formalização de ações semelhantes nos demais estados sob sua jurisdição — Rio Grande do Norte, Alagoas e Paraíba — reforçando o combate ao exercício ilegal da profissão em todo o território regional. A atuação do CRN-6 se apoia na legislação vigente, incluindo a Lei nº 8.234/1991, que regulamenta a profissão de nutricionista, e o Código Penal Brasileiro, que em seu artigo 282 prevê penalidades para quem exerce ilegalmente profissão regulamentada por lei. O Conselho também orienta a população a denunciar práticas irregulares por meio dos canais oficiais e alerta para os riscos de seguir orientações nutricionais vindas de perfis não profissionais, sem registro no Conselho e sem formação em Nutrição.
No dia 25 de março, o presidente do Conselho Regional de Nutrição - 6ª Região (CRN-6), Rafael Azeredo, recebeu as nutricionistas Wilma Ramos e Lourienne Antunes, representantes da Coordenação de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), para uma reunião estratégica que reforçou o compromisso conjunto com o fortalecimento das políticas públicas de alimentação no estado. O encontro teve como objetivo central a construção de parcerias institucionais por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre as entidades. A proposta busca potencializar ações intersetoriais voltadas à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), valorizando a atuação dos nutricionistas no Sistema Único de Saúde e em programas públicos voltados à garantia do direito humano à alimentação adequada. Entre as propostas discutidas, ganhou destaque a iniciativa “Se Amostra PE”, uma mostra de experiências exitosas protagonizadas por nutricionistas em diferentes territórios do estado. A ação pretende dar visibilidade às práticas que promovem o acesso a uma alimentação saudável, culturalmente adequada e sustentável, especialmente em contextos de vulnerabilidade. O presidente do CRN-6, Rafael Azeredo, destacou a importância da articulação entre as instituições para avançar nas políticas de SAN: “Reunir o Conselho e a Secretaria é fortalecer a rede de proteção social por meio da Nutrição. O Termo de Cooperação Técnica será uma ferramenta potente para estimular ações conjuntas, dar visibilidade ao trabalho dos nutricionistas e consolidar a segurança alimentar como prioridade de Estado.” A nutricionista Wilma Ramos reforçou o compromisso da SES-PE com a promoção da alimentação saudável e com a valorização da categoria: “A aproximação com o CRN-6 é estratégica para ampliar o alcance das ações da Secretaria. Os nutricionistas têm papel fundamental na promoção da saúde e no enfrentamento das desigualdades alimentares em Pernambuco. A parceria com o Conselho contribui para fortalecer a gestão intersetorial da Segurança Alimentar e Nutricional, dar visibilidade às práticas de excelência e garantir que o cuidado com a alimentação esteja no centro das políticas públicas.” A expectativa é que o Termo de Cooperação Técnica seja formalizado nos próximos meses, possibilitando o desenvolvimento de ações formativas, campanhas públicas, apoio técnico e valorização de boas práticas desenvolvidas por nutricionistas nas redes municipais e estaduais de saúde, educação, assistência social e desenvolvimento agrário. A iniciativa “Se Amostra PE” deverá ser realizada ainda em 2025 e contará com a curadoria técnica do CRN-6 e da SES-PE, reunindo relatos de experiências, projetos intersetoriais, resultados de impacto social e relatos de atuação profissional que demonstram o protagonismo da Nutrição no combate à fome e na construção de sistemas alimentares mais justos. Com essa parceria, o CRN-6 reforça seu compromisso com a interlocução institucional e com a defesa da segurança alimentar e nutricional como direito humano fundamental. A atuação conjunta entre Conselho e Secretaria de Saúde representa uma estratégia concreta de fortalecimento das políticas públicas e da valorização da categoria profissional em Pernambuco.
A Resolução CFN nº 795/2024 , que estabelece os procedimentos para a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e a Anotação de Responsabilidade pelas Atividades de Alimentação e Nutrição (ARAAN) , entrará em vigor no dia 17 de março de 2025 . Essa norma substituirá a Resolução CFN nº 576/2016 , trazendo mudanças importantes para nutricionistas que atuam como responsáveis técnicos. Principais mudanças: ✅ Empresas cuja atividade-fim é alimentação e nutrição humana e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) terão a ART registrada. ✅ Empresas de outros setores que possuam serviços de alimentação e nutrição humana terão a ARAAN registrada. ✅ Solicitação eletrônica da ART e da ARAAN , garantindo mais agilidade no processo – as instruções estarão disponíveis no site dos Conselhos Regionais de Nutrição (CRN). ✅ Critérios de análise simplificados e mais objetivos , trazendo mais transparência. ✅ Possibilidade de assunção de responsabilidade por nutricionistas com inscrição secundária . Com essas mudanças, o CFN busca modernizar e facilitar o processo para os profissionais, garantindo mais eficiência e clareza na anotação das responsabilidades.

Se as tendências atuais continuarem, quase 3 bilhões de adultos – metade da população mundial – terão sobrepeso ou obesidade até 2030. Além disso, poucos países estão plenamente preparados para enfrentar essa realidade, seja por meio da prevenção ou do tratamento adequado. Essas são algumas das conclusões do Atlas Mundial da Obesidade 2025, relatório produzido pela Federação Mundial da Obesidade. Além disso, com base nas projeções atuais, o mundo não atingirá as metas de 2025 da Assembleia Mundial da Saúde para a prevenção e o controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que incluem “interromper o aumento do diabetes e da obesidade” e “redução relativa de 25% na mortalidade prematura geral por doenças cardiovasculares, câncer, diabetes ou doenças respiratórias crônicas”, conforme as linhas de base estabelecidas em 2010. Também é improvável que seja alcançada a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que prevê a redução em um terço da mortalidade prematura por DCNTs até 2030, conforme acordado na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável em 2015. De acordo com o levantamento, o alto índice de massa corporal (IMC) está ligado a aproximadamente 1,6 milhão de mortes prematuras por ano. Além disso, mais de 160 milhões de anos de vida são perdidos anualmente devido a doenças associadas ao excesso de peso. O estudo também revela que os esforços globais ainda são insuficientes. Apenas 13 países adotaram todas as medidas essenciais para monitorar e tratar a obesidade, e nenhum implementou integralmente as cinco políticas-chave de prevenção recomendadas. Isso significa que a maioria das nações ainda não está preparada para lidar com essa crise. O impacto da obesidade no Brasil No Brasil, a realidade segue essa mesma tendência preocupante. O número de pessoas com obesidade cresce a cada ano: Em 2003, 12,2% da população adulta vivia com obesidade; Em 2019, esse percentual mais que dobrou, chegando a 26,8%; Em 2025, a projeção é que 31% da população adulta esteja com obesidade. E as perspectivas futuras não são melhores. Até 2030, a obesidade pode aumentar em 33,4% entre os homens e impressionantes 46,2% entre as mulheres. Se nada mudar, até 2044, quase metade da população adulta brasileira (48%) terá obesidade, e outros 27% viverão com sobrepeso – um cenário crítico para a saúde pública. Combater a obesidade não pode mais ser adiado. Criar ambientes que incentivem hábitos saudáveis, garantir o acesso a alimentos nutritivos e promover a prática de atividades físicas são passos fundamentais. Regulamentar a publicidade de alimentos ultraprocessados e ampliar políticas públicas eficazes também são estratégias essenciais. O enfrentamento da obesidade exige um esforço coletivo – governos, empresas, profissionais de saúde e a própria população precisam se mobilizar para reverter esse quadro. O futuro da saúde global depende das escolhas que fazemos hoje.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta quase 6% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 12 milhões de pessoas. No mundo, são mais de 300 milhões de diagnósticos. O tratamento envolve terapia e medicação, mas o gerenciamento da doença também passa pela busca de um estilo de vida mais saudável, priorizando atividade física, alimentação e sono equilibrados. Diversos estudos associam estes fatores a uma melhora global e duradoura. No caso da relação entre hábitos alimentares e depressão, porém, “muito do que se sabe vem de pesquisas conduzidas em países ricos”, conta Naomi Ferreira, pós-doutoranda da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), destacando a falta de dados que considerem a realidade dos países de baixa e média renda. Pensando em diminuir essa lacuna, ela liderou um estudo com brasileiros focado especialmente na relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a incidência e persistência da condição psíquica. A pesquisa envolveu mais de 14 mil pessoas, com dados coletados ao longo de oito anos, e revelou que uma dieta com alto teor destes produtos tem um impacto substancial no risco de depressão persistente. A pesquisa teve o apoio do Laboratório de Fisiopatologia no Envelhecimento (Gerolab), que investiga o envelhecimento e as doenças crônico-degenerativas associadas. Claudia Suemoto, professora de Geriatria da FMUSP e diretora do Biobanco do Gerolab, já verificou anteriormente a associação entre o consumo de ultraprocessados e o declínio cognitivo na terceira idade, e foi responsável por supervisionar o trabalho recente. “Os ultraprocessados têm sido estudados em relação a vários desfechos de saúde”, explica Naomi. O artigo também contou com a participação de profissionais do Instituto de Psiquiatria (IPq) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. “As pesquisadoras da FSP trabalharam com o Carlos Monteiro, cientista brasileiro que descreveu pela primeira vez a classificação de ultraprocessados”, continua Naomi. Essa classificação, utilizada amplamente em escala mundial, divide os alimentos em quatro grupos: in natura ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; e ultraprocessados (que contêm aditivos como corantes e emulsificantes). No contexto da pesquisa, os grupos 1 e 2 foram unidos, pois os ingredientes são comumente usados na preparação e tempero de alimentos naturais. Ao longo do estudo, houve três períodos de avaliação (ondas): 2008 a 2010, 2012 a 2014 e 2017 a 2019. Dentre os 13.870 participantes anteriormente livres de depressão, o grupo que consumia alimentos não processados ou minimamente processados não apresentou depressão em nenhuma das ondas avaliadas. Publicada no Journal of Academy of Nutrition and Dietetics, a investigação foi realizada a partir de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que acompanha a saúde de servidores públicos de seis capitais entre 35 e 74 anos. O Elsa acontece em diversos centros no País, e tem como objetivo avaliar o risco na população brasileira para doenças crônicas, em especial, as cardiovasculares e o diabetes. É considerado um levantamento fundamental para a adequação de políticas públicas de saúde às necessidades nacionais. Um dos enfoques do estudo é a dieta da população, associada às condição de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho e gênero. “O Elsa é um marco, porque é um estudo epidemiológico com um acompanhamento longo, e envolve uma população de quase 15 mil pessoas”, destaca Naomi. “Esses dados são muito importantes para entender um fenômeno que já é analisado em outros contextos socioculturais, mas que tem suas peculiaridades num País como o nosso, composto de desigualdades e adversidades do ponto de vista socioeconômico. ” Perigo dos ultraprocessados Informações consolidadas na ciência confirmam que uma alimentação primordialmente in natura auxilia a suprir as necessidades do corpo humano, reduzir a hipertensão e atrasar a neurodegeneração em pessoas de idade avançada. A chamada “dieta mediterrânea” fornece alto teor de antioxidantes e baixas quantidades de gorduras saturadas e açúcares adicionados: consequentemente, o estresse oxidativo é reduzido, e os níveis inflamatórios cerebrais diminuem. “A dieta mediterrânea é caracterizada por um consumo importante de frutas, legumes e verduras, e um consumo baixo de carne vermelha”, comenta Naomi Ferreira. Em contrapartida, o consumo diário de ultraprocessados está relacionado ao aumento de processos inflamatórios, tanto do ponto de vista sistêmico quanto de neuroinflamação, propiciando perfis desregulados de neurotransmissores cerebrais. “A dieta ocidental que a população mundial tem aderido, muito baseada em fast foods e comidas prontas, tem um alto teor de calorias vazias — ou seja, você ingere a caloria, mas o corpo continua carecendo de nutrientes fundamentais”, aponta. “A constituição do alimento ultraprocessado pode causar desequilíbrios na microbiota intestinal”, continua a pesquisadora. O eixo intestino-cérebro, que liga o sistema nervoso entérico ao central, participa da relação: vitaminas e minerais são cruciais para o bom funcionamento do sistema nervoso, e sua ausência aumenta o risco de diversas doenças, como demência e Alzheimer. “A intensa deposição das proteínas em um ambiente com mais marcadores inflamatórios predispõe o indivíduo a apresentar sintomas neurodegenerativos”, diz. Métodos de investigação Para quantificar a incidência da depressão nos pacientes, o principal método utilizado foi o Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R), uma entrevista validada para sintomas psiquiátricos. O CSI-R se baseia em cinco aspectos: fadiga, concentração ou esquecimento, distúrbios do sono, depressão e ideias depressivas. Os dados coletados foram comparados com as respostas de um questionário de frequência alimentar, que avalia padrões alimentares no período de um ano com base em 114 itens. Por fim, foi realizada a análise de Cox, que informa o risco do indivíduo desenvolver a depressão ou não, de acordo com seus hábitos. “Aqueles que consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30% maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão”, realça a Dra. Naomi. O maior diferencial da pesquisa, entretanto, foi o enfoque dado à persistência da doença ao longo dos oito anos. A análise de Cluster, um software estatístico, classificou os participantes do estudo em três grupos: nenhum diagnóstico de depressão, diagnóstico em somente uma das avaliações, e diagnóstico em duas ou mais avaliações. Juntamente a essa estratégia, uma análise de regressão multinomial avaliou o consumo de ultraprocessados de 1 a 4 e associou ambos os resultados. “O resultado da depressão persistente foi inesperado porque não se tinha muitos estudos sobre isso, sabíamos muito pouco a respeito”, afirma a cientista. Os indivíduos que registraram maior consumo de ultraprocessados no início do estudo tiveram mais diagnósticos nas avaliações subsequentes: em relação ao grupo 1, o risco de depressão persistente dos integrantes do grupo 2 foi 30% maior; o risco do grupo 3 foi 39% maior, e com relação ao grupo 4, o risco foi 58% maior. Condição e estilo de vida O estudo também levou em consideração variáveis associadas para o desenvolvimento da depressão, como aspectos sociodemográficos e dados clínicos. Portanto, a pesquisa também questionou os participantes sobre seus hábitos, como consumo excessivo de álcool, tabagismo e frequência de atividade física. Os resultados revelaram associações a múltiplos fatores: jovens, mulheres, negros ou pardos, fumantes, pessoas de baixa renda, pessoas com maior ingestão total de energia diária e maior Índice de Massa Corporal (IMC) eram mais propensos a receber o diagnóstico na primeira avaliação. Por outro lado, participantes com um diploma universitário, casados e fisicamente ativos eram menos propensos a sofrer com a depressão. A cientista também ressalta que o alto consumo de ultraprocessados leva ao sobrepeso e à obesidade, e essas condições aumentam o risco cognitivo em geral. Para ela, um grande desafio é conscientizar a população da importância de refletir sobre seus hábitos alimentares. “Se só pensarmos na gratificação a curto prazo, podemos sacrificar o longo prazo com um transtorno mental e com diversas outras doenças a que os ultraprocessados estão associados.” Pelo lado positivo, a análise estatística da substituição de alimentos demonstra que uma pequena diferença já pode surtir efeitos relevantes: substituindo 5% do consumo de ultraprocessados pela mesma quantidade calórica em alimentos minimamente processados, o risco de um indivíduo desenvolver depressão ao longo dos anos diminui em 6%. Ao substituir 20% desses produtos, é possível reduzir a probabilidade em 22%. Solucionar este problema em nível social, entretanto, é uma tarefa complexa, visto que a diversidade socioeconômica da população brasileira interfere diretamente no acesso à alimentação de qualidade. “Os ultraprocessados são produzidos de forma a aguentar por muito mais tempo na prateleira, então são financeiramente mais acessíveis do que o alimento in natura, e por isso pessoas de renda mais baixa tendem a consumi-los”, finaliza a pesquisadora.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) assumiu em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) um novo indicador do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sobre Diversidade Alimentar Mínima (MDD). Este indicador captura um aspecto crucial que antes faltava no acompanhamento do progresso para acabar com a desnutrição e alcançar o ODS 2 (Fome Zero) e a Agenda 2030 mais ampla. O novo indicador foi formalmente adotado pela Comissão de Estatística das Nações Unidas em sua 56ª sessão em Nova York, realizada no início de março de 2025. A inclusão do MDD como novo indicador dos ODS é uma das poucas mudanças substanciais aprovadas pela Comissão como parte da Revisão Abrangente de 2025 da estrutura de indicadores dos ODS – a segunda e última Revisão Abrangente dentro do horizonte temporal da Agenda 2030. Ele marca o capítulo final de um longo processo que começou há mais de um ano por uma coalizão de países e organizações internacionais liderada pela Suíça e liderada pela FAO e UNICEF, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). A diversidade – ou a variedade de alimentos que consumimos – é um dos pilares de uma dieta saudável. A qualidade de uma dieta é essencial para prevenir todas as formas de desnutrição e apoiar a saúde, o crescimento, o desenvolvimento e o bem-estar. O novo indicador MDD foi metodologicamente validado e será medido para dois grupos populacionais: crianças e mulheres em idade reprodutiva, designados "MDD-C" e "MDD-W", respectivamente. Os 10 grupos de alimentos são definidos como: grãos, raízes e tubérculos brancos e bananas; leguminosas (feijão, ervilha e lentilha); nozes e sementes; leite e produtos lácteos; carnes, aves e peixes; ovo; vegetais de folhas verdes escuras; outras frutas e vegetais ricos em vitamina A; outros produtos hortícolas; e outras frutas. Quanto maior a proporção de mulheres na amostra que atingem esse limite, maior a chance de as mulheres da população consumirem dietas com vitaminas e minerais suficientes. Um processo semelhante de desenvolvimento foi liderado pelo UNICEF para o MDD-C. A FAO e o UNICEF, em colaboração com a OMS e outros parceiros, há muito lideram os esforços de coleta de dados sobre segurança alimentar e nutrição, ressaltando a necessidade de validar e harmonizar os métodos de medição. Isso inclui a insegurança alimentar como parte do monitoramento do ODS2, liderado pela FAO, e o acompanhamento do progresso em direção às metas da Assembleia Mundial da Saúde, como atraso no crescimento infantil, emagrecimento, anemia e excesso de peso, liderado pelo UNICEF e pela OMS. A inclusão do MDD representa a primeira vez que uma medida da qualidade das dietas será adicionada a essas informações críticas. "A ausência de um indicador dos ODS sobre dietas saudáveis negligenciou o papel central que as dietas desempenham na consecução da Agenda 2030, embora os padrões alimentares não saudáveis sejam conhecidos por serem o principal fator de maus resultados de saúde e doenças não transmissíveis em todo o mundo. Agora, os países e a comunidade internacional têm uma nova ferramenta à sua disposição para formular estratégias baseadas em evidências para melhorar os resultados nutricionais e de saúde por meio de intervenções relacionadas à dieta e, portanto, alcançar o ODS 2", disse José Rosero Moncayo, estatístico-chefe da FAO e diretor da Divisão de Estatística. Lynnette Neufeld, diretora da Divisão de Alimentação e Nutrição da FAO, disse: "Medir a qualidade das dietas não é simples. Para avaliar a qualidade da dieta, o ideal é saber se as dietas são adequadas em todos os nutrientes, equilibradas na ingestão de energia, diversificadas nos alimentos consumidos e moderadas no consumo de alimentos não saudáveis. Fazer isso com comparabilidade entre contextos com indicadores fáceis de medir é complexo. Hoje, celebramos um enorme progresso nesse sentido, com o reconhecimento da diversidade alimentar como um elo perdido crítico que acompanha o progresso em direção ao ODS2." O indicador MDD-W pode ser usado para avaliar a diversidade alimentar em nível populacional, avaliar o impacto dos programas, informar políticas e definir metas. O MDD se concentra em mulheres e crianças, dois grupos que correm maior risco de várias formas de desnutrição. Um passo crítico à frente As tendências globais e regionais serão analisadas no relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2025 da ONU, que deve ser publicado em junho, bem como na avaliação da FAO "Acompanhando o progresso nos indicadores dos ODS relacionados à alimentação e à agricultura 2025", que deve ser publicada em setembro. Espera-se que as estimativas em nível de país sejam divulgadas no segundo semestre do ano. De acordo com o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, mais de 2,8 bilhões de pessoas não podiam pagar uma dieta saudável em 2022, enquanto novas estimativas de obesidade adulta mostram um aumento constante na última década, de 12,1% em 2012 para 15,8% em 2022. De acordo com as últimas projeções, o mundo terá mais de 1,2 bilhão de adultos obesos até 2030. Essas estatísticas são críticas. No entanto, para projetar ações eficazes, avaliar resultados e acompanhar o progresso ao longo do tempo, devemos entender o que os indivíduos vulneráveis à desnutrição realmente comem – não apenas o que está disponível no mercado. O novo indicador representa um passo crítico nessa jornada.

Hidratação constante e toalha úmida por perto, recomenda a pesquisadora Tatiane Cristina Moraes de Sousa para enfrentar o calor intenso. Professora do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), alerta para os impactos a curto e longo prazo na saúde humana em razão da alta das temperaturas registradas na cidade do Rio de Janeiro. Somente nos dois primeiros meses do ano, mais de 5 mil pessoas já procuraram atendimento médico em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em razão do calor excessivo, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-RJ). “Quando falamos dos impactos, temos que pensar primeiro na exposição, que é como aquela pessoa está exposta, por quantas horas, se está dentro de um ambiente ou não, se está a céu aberto, trabalhando”, avalia a professora. Como efeitos imediatos da exposição ao calor, a pesquisadora cita sinais de exaustão e insolação, que, em casos mais graves ou quando não há tratamento adequado, podem provocar complicações em órgãos vitais. “A pessoa pode ter desmaios, náuseas, diferentes sinais e sintomas que mostram que ela está se encaminhando para uma insolação. O risco final, que pode acontecer de imediato dependendo das condições, é a pessoa vir a óbito”, comenta, relembrando o caso da universitária Ana Clara Benevides Machado, que morreu devido à exaustão causada pelo calor durante um show da cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro em 2023. Além dos efeitos diretos da exposição ao sol, principalmente em dias de temperatura e sensação térmica elevadas, Sousa aponta para os efeitos a longo prazo. À Agência Brasil, a professora explica que a exposição ao calor intenso faz com que se exija mais esforço do organismo para se regular. “Nosso sistema cardiovascular e nosso sistema renal estão se esforçando mais para o nosso corpo voltar à temperatura em que o organismo funciona melhor, em torno de 37ºC, então, se expormos o nosso corpo a esse esforço por um longo período, também aumentamos a chance de aparecerem doenças crônicas”, diz. Apesar das temperaturas recordes registradas na capital fluminense — na segunda-feira (17), a cidade atingiu máxima de 44ºC, maior temperatura desde 2024 —, a pesquisadora avalia que o calor excessivo não é um desafio apenas da cidade do Rio de Janeiro, mas um problema que precisa ser repensado por diferentes sistemas de gestão pública e pela sociedade. “Hidratação, por exemplo, é essencial. A prefeitura municipal [do Rio de Janeiro] disponibilizou pela cidade diferentes pontos de hidratação gratuita, mas sabemos que interromper ou evitar essa exposição no horário de 11h às 15h é ideal, só que isso mexe, principalmente, com o trabalhador, isso mexe como construímos a nossa sociedade para os horários de trabalho”, reflete. Segundo Sousa, os profissionais mais afetados são aqueles com vínculos informais de trabalho, especialmente entregadores e vendedores ambulantes, que dependem dos horários de maior movimento. “Como você vai garantir que esse vendedor não trabalhe nos horários de pico, se no carnaval, por exemplo, é o momento em que eles mais ganham?”, questiona.